quinta-feira, 25 de maio de 2017

Real - O Plano Por Trás da História


Drama histórico baseado em fatos verídicos Real - O Plano Por Trás da História (Brasil, 2017) de Rodrigo Bittencourt, lançado num momento conturbado de nossa história política e econômica, mostra a trajetória de ascensão do plano Real focando no mentor do plano, o economista Gustavo Franco, que fez parte do governo FHC, estando à frente do Banco Central. O filme escapa das armadilhas que poderia facilmente cair, chagando a insinuar pertinentes lições de moral a Lula e ao PT.

Numa época em que o presidente do PSDB e outros comparsas golpistas estão envolvidos nas denúncias de corrupção, eis que surge um filme que parece ter sido feito no intuito de fazer propaganda partidária, mas que se mostra bastante honesto, apresentando os fatos ocorridos, sejam eles comprometedores ou não. Assim, o filme diverte de forma involuntária na caracterização de personagens reais da nossa política, destaque para José Serra (Arthur Kohl), que rouba a cena sempre que aparece. 


O filme é guiado por uma entrevista do orgulhoso, arrogante e inflexível, Gustavo Franco (Emílio Orciollo Neto) a jornalista Valéria (
Cássia Kis Magro) realizada no ano de 2003, onde ele conta como entrou no governo de Itamar Franco (Bemvindo Siqueira) quando ele nomeou Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo) como o novo Ministro da Fazenda, e por intermédio de Pedro Malan (Tato Gabus Mendes), o professor universitário Gustavo é então convidado a integrar uma verdadeira força-tarefa, cujo objetivo é criar um novo plano econômico.

A narrativa inicia em 1993 mostrando um Gustavo opositor ferrenho de políticas de cunho social, ele é adepto de um choque fiscal de forma que seja criada uma moeda forte, e devolva a dignidade aos cidadãos. Num jantar com amigos, ele ironiza seu amigo, um coxinha clássico que estudou em Harvard e será um CEO em Londres, indagando se ele havia votado no Lula nas últimas eleições. 
Gustavo demonstra então ser um crítico feroz da política econômica adotada pelo governo brasileiro nos últimos anos, prevendo um futuro que segundo alguns, está acontecendo. 

O filme aos poucos coloca Gustavo numa posição de super herói, mesmo ele sendo muitas vezes criticado pelos próprios colegas que divergem de seu pensamento radical, que culmina no epílogo que remete à convocação de Franco, em 2003, pela CPI do Banestado, que investigava as responsabilidades sobre a evasão de divisas para paraísos fiscais. À época, Franco foi indiciado por envio irregular de dinheiro ao exterior a partir das chamadas contas CC5. Mesmo sendo alvo da comissão, Franco torna-se o acusador no longa, elogiando inclusive o trabalho do juiz Sérgio Moro, que na época, já mostrava uma postura adequada no poder judiciário... Algo mais atual impossível. Em seguida, Franco ataca seu inquisidor petista, um fictício deputado bigodudo de nome Gonçalves (Juliano Cazarré), ao sugerir que adeptos do neoliberalismo como ele terão de voltar ao poder para corrigir os erros cometidos pela esquerda.

No pano de fundo, temos o desastre econômico ocorrido pelo câmbio fixado no primeiro mandato de FHC e a compra de votos para a emenda da reeleição que beneficiou o tucano e o futebol, onde episódios relacionados a Copa de 1994 são mencionados no longa. Franco, que não gosta de futebol, vê na copa uma janela para lançamento de sua moeda, enquanto que o povo está mergulhado no afã futebolístico.

A escalação do elenco já chamava a atenção no trailer, pela semelhança dos atores aos personagens. 
Arthur Kohl como José Serra está muito verossímil, assim como Tato Gabus Mendes como o então ministro da Fazenda Pedro Malan, Bemvindo Siqueira interpretando Itamar Franco e Norival Rizzo na pele de Fernando Henrique Cardoso. Emílio Orciollo Neto tem o papel de sua vida nesse longa. Pra mim que esperava ver no filme uma propaganda política antecipada, visando o retorno do PSDB ao poder, até que me agradou o filme ser honesto em sua proposta de adaptação do livro 3.000 Dias no Bunker – Um Plano na Cabeça e um País na Mão, de Guilherme Fuizaméritos do roteirista Mikael de Albuquerque, que não foi maniqueísta, tampouco atiçou a rivalidade partidária que predomina em nosso país.

Segue trailer de Real - O Plano Por Trás da História:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Isso! Comente! Faça um blogueiro feliz!

Compartilhar