Sentimento de cólera ou de desprezo excitado por uma afronta, uma ação vergonhosa, uma injustiça frisante, etc
Numa democracia, o direito à indignação é sagrado.
Em Colossenses 3:8 diz: “Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar.”
O direito à indignação é um direito inalienável dos cidadãos
Em algumas passagens vemos o próprio Deus com indignação:
Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias. (Salmos 7:11)
“Levanta-te, SENHOR, na tua indignação, mostra a tua grandeza contra a fúria dos meus adversários e desperta-te em meu favor, segundo o juízo que designaste.” (Salmos 7:6)
“O Senhor é um Deus verdadeiro. Ele é um Deus vivo e rei eterno. Diante de sua indignação a terra treme e as nações não podem suportar o seu furor” (Jeremias 10:10).
Pode um cristão sentir indignação?
A indignação não denotaria uma falta de virtude na pessoa religiosa?
Qual é mesmo o significado de indignação?
Acreditamos que, de toda maneira, a nossa tradição cristã tem algo a aprender ou a recuperar com esse relevo que os nossos tempos conferem ao tema – como acreditamos também que as fontes cristãs ajudem a tornar mais pleno o sentido e a realidade da indignação.
As formulações clássicas das virtudes não mencionam tal temática, talvez porque sejam devedoras de suportes filosófico-culturais que privilegiavam o conhecimento frente à ação, as coisas “eternas” em vez das que indicam movimento e conflito.
Muitas vezes, a Igreja esqueceu que indignar-se está na fonte da manifestação do próprio Deus, que vê a miséria do seu povo, escuta o seu clamor e desce para libertá-lo. Indignação é então um processo radicalmente teologal, lugar privilegiado da experiência da ação de Deus no mundo.
A revelação central do Deus da Bíblia, sua própria identidade (cf. Exodo 3:14), tem a ver com a atitude de indignação – e toda virtude religiosa deveria possuir.
É a miséria do povo e seu clamor que movem a Deus e constituem a sua vocação, realizando o modelo virtuoso dessa comunidade de crentes que se remete às escrituras sagradas.
Mas de fato, nas igrejas, palavras como indignação ou rebeldia metem medo ou provocam ainda certo mal-estar. Somos cuidadosamente treinados a pensar e a comportar-nos na presunção de que existe uma ordem estabelecida, que implicitamente se confunde com a vontade de Deus, a partir da qual devemos pautar os nossos valores e padrões de vida. Virtudes aqui são a submissão e a obediência. Indignação, pois, identifica-se facilmente com a soberba e o orgulho, considerado aí o pior pecado.
No entanto, o que se torna cada dia mais evidente é que a ordem estabelecida é um mito e uma ficção; confundir facilmente essa ordem estabelecida com a vontade de Deus é, muitas vezes, simplesmente blasfemia. O que existe e está continuamente diante dos olhos é uma grande confusão e verdadeira desordem estabelecida. Uma violência institucionalizada, diante da qual a exigência ética não é a acomodação ou a submissão, mas, antes, a indignação e a rebeldia.
O espanto ou a admiração perante a harmonia universal foi, com efeito, para os antigos gregos, a origem do filosofar. O pensamento moderno, antropocêntrico e de tendência subjetivista, está marcado radicalmente pela dúvida ou suspeita. Mas na atitude contemporânea já não é a harmonia cósmica que impressiona tanto, e nem é mais suficiente a concentração da atenção no sujeito pensante para dar sentido à existência humana e possibilitar o sentimento de felicidade.
A angústia em face do absurdo, testemunhada pelo existencialismo, e a experiência objetiva da opressão e da injustiça crescentes, enfatizada tão intensamente pelo movimento socialista, provocam o sujeito a buscar para além de si mesmo.
A preocupação contemporânea é com a ação. As pessoas estão preocupadas com o que fazer, como agir para que a vida tenha sentido e seja caminho de felicidade. Já não basta a certeza da Verdade, as pessoas desejam a Felicidade. Por isso, não mais satisfaz estarem seguros quanto à Verdade, pensar corretamente. O que as pessoas pretendem é agir corretamente, encaminhar-se na direção da Felicidade.
Uma atualização das virtudes para o nosso tempo deve resgatar a indignação, como virtuoso ponto de partida para o seguimento de Jesus Cristo.
Mas a riqueza da tradição que a Igreja guarda, por sua vez, talvez sirva para enriquecer o que se entende por indignação. Isso porque a busca de ação emancipatória convive em nossa civilização com o individualismo consumista, que compreende a indignação como protesto do pensamento que discorda e critica simplesmente as coisas, como sentimento de revolta contra a suposta injustiça praticada contra o direito de se dispor de tudo e de todos, uma discordância raivosa e as mais das vezes sentimental.
Quando voltamos às Escrituras Sagradas, percebemos que aí a indignação é uma práxis central, que envolve todas as dimensões da pessoa - sentimento de ira diante da injustiça, crítica racional da desordem estabelecida, militância e ação engajada - visando a transformar a realidade de opressão.
E chega mesmo a atingir as motivações profundas da pessoa e todo o seu sistema de valores e sentidos, pois, na Bíblia, o que move à iracúndia não é a defesa individualista de pretensos direitos, mas a luta pelo direito à vida do outro – como Deus fez. Trata-se de apostar nesse modo de ser e de viver, como sendo o que traz mais saúde – e salvação.
Ou seja, indignar-se, além de uma forma de sentir, pensar e de agir, é também uma forma de crer. Veja-se o empenho dos grandes profetas e de pessoas simples como Maria, que canta a indignação de Deus “que derruba os poderosos”. De modo que a indignação não é somente a fonte da prática contemporânea e da sua filosofia, mas é a fonte do jeito cristão de ser e de atuar no mundo.
O próprio Jesus, aliás, dizia "não resistais ao homem mau, antes, àquele que te bate na face direita, oferece também a esquerda" (Mateus 5:39) numa demonstração de superioridade e de resistência ao agressor – e não de amolecimento e covardia, como se tem interpretado.
Jesus mesmo reagiu com altivez à bofetada que lhe dera o sumo sacerdote: "se falei alguma coisa de errado, mostra o que foi, se não, por que me bates?" (João 18,23).
E não teve “meias palavras” para tratar certos grupos: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da Lei: a justiça, a solidariedade e a fidelidade...” (Mateus 23:23-35).
Também derrubou as mesas do templo e pegou um chicote para com ele manifestar a sua indignação diante da profanação da "casa de seu Pai" (Lucas 19:46).
O templo, que devia acolher todas as pessoas, sobretudo as mais necessitadas, como filhos de Deus, tinha sido pervertido e degradado: de casa de Deus tornara-se “covil de ladrões” (Marcos 11:15-19).
Jesus gostava de distinguir a "sua paz" da "paz do mundo" (João 14:27). Chegou a dizer claramente que não viera "trazer a paz, mas a espada" (Mateus 10:34). E "quem não tiver uma, venda a sua túnica para comprá-la" (Lucas 22:36).
É distorcer gravemente a mensagem de Jesus confundir a misericórdia, a mansidão e a afabilidade que manifestava para com os pequeninos do Reino de Deus com a flacidez, a passividade e a resignação diante do mal e da injustiça.
Jesus, ao seu tempo, discutindo com doutores sobre preceitos de santidade, foi levado a “repassar sobre eles um olhar de tristeza e de indignação pela dureza de seu coração” (Marcos 3:5).
Fontes: http://pt.wiktionary.org/wiki/indignação
http://www.unicap.br/teologia/Gil10.htm
Hum...
ResponderExcluirA Aula vai ser boa!
Só temos temas fortes...
Mas nós somos fortes...srsrrs
A aula de hoje foi muito interesante apesar do tema ser muito forte.
ResponderExcluirA aula foi maravilhosa