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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Filme: O Som ao Redor
Na noite do dia 30 de janeiro de 2013, após um dia comum de trabalho, uma corrida leve, e um tempo agradável ao lado da família, fui ao cinema já no calar da noite para ver o filme nacional 'O Som ao Redor'.
Já vinha lendo muitos comentários interessantes sobre esse filme. Seu diretor já foi crítico de cinema, o filme entrou numa lista dos 10 melhores de 2012 do The New York Times, ganhou prêmio de Melhor Filme Latino na 3ª edição do Prêmio Cinema Tropical, 2º melhor filme de estréia nos EUA segundo o Indiewire, sem falar que o filme foi o ganhador do Festival do Rio 2012...
O filme é intrigante. Aguça a nossa curiosidade o tempo todo. Uma verdadeira invasão de privacidade. Me senti como se estivesse numa janela brechando o vizinho... Até reunião de condomínio tem no meio do filme...
No início algumas imagens antigas, que mostram o contraste com a realidade atual. O filme acompanha as transformações que ocorrem com os moradores de um bairro classe média da zona Sul do Recife, quando um grupo de milícia da polícia chega ao lugar para oferecer segurança em troca de pagamento.
Clodoaldo (interpretado pelo sempre excelente Irandhir Santos) é o líder da milícia e que muda a vida dos moradores do local. Ao mesmo tempo em que alguns comemoram a tranquilidade trazida pela segurança privada, outros passam por momentos de extrema tensão.
É interessante que os personagem se cruzam o tempo todo, mas não possuem uma relação específica entre si. Exceto os familiares do Seu Francisco, com maior destaque para João (Gustavo Jahn), Tio Anco (Lula Terra) e o garoto Dinho (Yuri Holanda).
Ao mesmo tempo, casada e mãe de duas crianças, Bia (Maeve Jinkings) tenta encontrar um modo de lidar com o barulhento cachorro de seu vizinho... Essa personagem foi a que mais chamou minha atenção no filme e me fez refletir.
Ela é dona de casa, mãe de dois filhos, mas que não recebe a devida atenção do Marido. Com isso, ela não consegue dormir bem à noite, e acaba se entregando ao vício do cigarro e outras drogas, e pasmem: ela usa a máquina de lavar para obter prazer...
Apesar de cenas cômicas, o filme é um drama, carregado de cenas de suspense, como a menino visto passando rapidamente de relance numa porta aberta, a chuva de sangue, o sonho da filha da Bia, ou até mesmo o mergulho entre os tubarões... Percebi até uma certa crítica a diferença de classes. Por exemplo, as empregadas, tem destaque ao longo de todo o filme, que cita também descaradamente o coronelismo, que ainda impera nos dias atuais...
O três atos do filme estão muito bem divididos nos capítulos Cães de Guarda, Guardas Noturno e Guarda Costas. Muito didática essa forma de apresentação. Achei sensacional a idéia. Todos os atores estão muito bem. O sotaque nordestino, apesar de mal visto pelos sulistas, não incomoda.
O grande destaque do filme é a edição de som, tanto que o nome do filme é 'O Som ao Redor', haja vista que ele é o personagem principal da trama. Somos sempre apresentados aos ruídos e barulhos que estão no entorno dos personagens do filme. Seja o cachorro do vizinho, uma batida no trânsito, buzinas, o barulho do elevador, da chuva, das árvores, etc.
Apesar de ter gostado do filme, confesso que ele é difícil, de modo que não agradará o público como um todo, que sempre espera uma história com começo, meio e fim. Nesse sentido, o filme não termina. E já falei o quanto gosto de filmes que deixam o final em aberto para cada espectador tirar suas conclusões. Me lembrou e muito o final do iraniano 'A Separação'.
O filme é instigante ao extremo. Recomendo, lamentando o fato do filme ter tão pouco espaço no circuito comercial. Com poucas cópias, aqui em Fortaleza estreiou dia 25 de janeiro, num horário extremamente incoveniente... Vejam o trailer:
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