Documentário Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha (2020) de Jenny Popplewell conta a história dos assassinatos da família Watts em 2018, ocorridos em Frederick, Colorado, usando materiais de filmagem em primeira mão, analisando desde o desaparecimento de Shanann Watts e suas filhas, e os terríveis acontecimentos posteriores que revelaram um assassinato cruel.
Com o advento das redes sociais, cada vez mais os documentários conseguem nos aproximar do caso real, uma vez que o acesso às câmeras está mais fácil do que nunca. O ser humano sempre teve o hábito de documentar tudo, desde festas de aniversário, viagens, encontros românticos, casamentos, trabalho, crescimento dos filhos, entre várias outras coisas, e hoje tudo isso pode ser compartilhado com amigos, parentes e até pessoas desconhecidas através da internet.
No Facebook, Shanann publicava vários vídeos da sua rotina com o marido, Chris Watt, e as suas filhas Bella, de 4 anos, e Celeste de 3, fazendo também relatos sobre a sua relação com a família, o amor pelas crianças, entre outras questões relacionadas a uma vida comum.
Com um vasto material em imagens, a diretora consegue contar sobre o desaparecimento de Shanann e suas filhas, após uma longa viagem em família, quando ela tentava colocar o rumo desgovernado que a vida estava virando em seu lugar. Junto às imagens da vítima, logo no início conferimos também tudo o que foi gravado pelo policial que atendeu à ocorrência, que parecia ter a câmera acoplada no meio do peito do seu uniforme.
O desaparecimento começou a ser percebido por uma amiga de Shanann, a mesma que a deixou em casa após uma viagem curta de negócios, que durou um fim de semana. O policial chega à casa da família, faz algumas ligações e, finalmente, Chris aparece. Se você deixar o nome do documentário de lado, pode até acreditar que Shanann havia pegado as filhas e fugido.
Chris aparece calmo, sem entender o que estava acontecendo, mas como se estivesse reprimindo um sentimento de desespero. Ele diz que não imagina o que pode ter acontecido com a esposa e as filhas, e até colabora com o policial, contando que os cobertores preferidos das crianças não está lá, mas que a aliança e o smartphone de Shanann sim, o que dá a entender de que se tratou de uma fuga.
Desde o caso até a conclusão da investigação se passaram poucos dias. Em meio ao mistério do que poderia ter acontecido, vemos mais gravações da vida do casal, principalmente de Shanann, mostrando que ela tinha uma personalidade forte e que era quem controlava a relação. Só isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos dos outros, a vítima de uma megera. Até mesmo após a descoberta do crime, muitas vizinhas a culpavam pelo que aconteceu, mas antes da verdade vir à tona. A única desconfiança contra Chris mostrada foi quando um vizinho cedeu suas imagens da câmera de segurança à polícia, contando ao oficial que o suspeito estava estranho e que ele nunca havia sido visto daquela forma.
A reviravolta começou quando Chris foi levado pela polícia para fazer o teste do polígrafo, que detectaria se ele estava mentindo ou falando a verdade, com tudo sendo documentado pelas câmeras de segurança. É incrível ver a habilidade dos profissionais em casos tão chocantes como esse. No momento de fazer o teste, eles já sabiam que Chris tinha uma amante, quem ela era e que as três vítimas estavam mortas, só seria preciso da confissão e do local onde estavam os corpos.
O Chris tranquilo que aparece nas primeiras imagens virou uma pessoa nervosa, que facilmente se rendeu e contou a verdade, mesmo que tenha sido aos poucos. Com a presença de seu pai no local, ele afirmou que havia matado Shanann estrangulada porque ela havia matado as filhas antes, dizendo que seu impulso foi fazer o mesmo com ela. Gaguejando e relutante, como quem estava pensando muito antes de falar. Ele revelou que o corpo da esposa foi enterrado e os das filhas jogados em tanques de petróleo onde trabalhava como operador.
É quando o choque toma conta do documentário, fazendo ao jus ao título. A história aconteceu em 2018, meses após Chris ter conhecido outra mulher em seu trabalho, que não tem envolvimento com o crime, e começado a se relacionar com a jovem. Ele disse que se apaixonou momentaneamente e já não queria mais uma relação com a esposa, o que foi sentido por ela em diversas atitudes. Então, ele a matou pela manhã, pegou as filhas e o corpo, e as levou até o local em que trabalhava com petróleo. Lá, também sufocou as crianças com seus cobertores e jogou os seus corpos nos tanques.
O documentário teve acesso às mensagens de texto trocada por Shanann e as amigas, com ela contando que o marido não a desejava mais, que estava distante e que provavelmente tinha outra. Chega a ser torturante para o espectador sentir o desespero de Shanann nas mensagens, sem saber o que estava acontecendo, para no fim ter morrido vítima do próprio marido, sem ter tido o direito de processar o que estava acontecendo, ter respostas e, principalmente, sem ter vivido a oportunidade de reconstruir a sua vida sem o marido, com as filhas e o novo bebê que carregava. Chris foi condenado à prisão perpétua.
Segue o trailer de Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha:
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