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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Sem Descanso

 


Documentário Sem Descanso (Brasil, 2018) de Bernard Attal é pertinente e tempestivo, afinal vidas negras importam. Somos apresentados a uma situação rotineira em nosso país, de jovens que desaparecem após serem abordados por policiais militares. Dados comprovam que a polícia brasileira é a mais violenta do mundo, deixando vítimas que são principalmente os jovens negros. Os casos raramente são investigados, e os parentes são deixados a viver na ignorância sobre o destino de seus filhos após um encontro com a polícia militar. Com uma história que nos prende do início ao fim, uma montagem correta e uma abordagem bem coerente, sem lados. O documentário tece a investigação do caso com um debate sobre as raízes históricas e sociais da brutalidade policial.

Geovane, um jovem morador da periferia suburbana de Salvador, Brasil, foi levado, em 2014, por uma viatura da Policia Militar em plena luz do dia. Felizmente, uma câmera de segurança registrou a abordagem policial. Depois de uma investigação conduzida pelo próprio pai e pelo jornal local, o corpo foi encontrado esquartejado e sete policiais foram indiciados, embora até hoje, os criminosos não tenham sido punidos. O pai de Geovane se recusou a descansar até descobrir o paradeiro do seu filho. A narrativa, de caráter investigativo, costura a trama e a procura das raízes históricas e sociológicas da violência policial.

A realidade e a crueza da situação é perturbadora. Ainda mais na sociedade que concorda que "bandido bom é bandido morto", e elege um miliciano para o cargo político mais importante do país. O filme emociona ao narrar a trajetória de um pai em busca de justiça pelo filho assassinado pela polícia. Apesar de todas as provas, vemos como o caso é tratado pela justiça que acaba sendo conivente com tais situações.

O filme traça um paralelo com o movimento Black Lives Matter, e inclusive a cobertura jornalística do caso ocorrido em Salvador, na Bahia, também venceu o Prêmio OAB de Jornalismo, foi revelada por uma série de reportagens do jornalista negro Bruno Wendel, do “Correio” e por investigações feitas pelo pai da vítima, seu Jurandy Silva. O vídeo com as imagens da abordagem, feitas por uma câmera de segurança de uma casa, surgiu apenas oito meses depois em razão da insistência do pai em desvendar o assassinato.

A narrativa do documentário, de caráter investigativo, costura a trama e a procura das raízes históricas e sociológicas da violência policial. A investigação do Ministério Público da Bahia (MP-BA) aponta o envolvimento de 11 policiais na morte do rapaz, dentro de um quartel da polícia. Sabe-se que a violência policial no Brasil alcançou o nível de um verdadeiro genocídio contra a juventude negra das periferias das cidades. Ressalte-se que a culpa é da sociedade toda, não somente da polícia, mas também dos governantes, do judiciário e da população em geral que tolera tal violência.

Sem descanso já participou de 18 festivais em todo mundo. Além disso, foi vencedor de quatros prêmios: melhor documentário, no Black Montreal International Film Festival; melhor documentário, no Fenavid Santa Cruz da Bolívia; melhor longa, no Araial Cinefest; menção de excelência, no Impact Doc Awards.

Veja trailer de Sem Descanso:




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