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sábado, 25 de outubro de 2025

O Agente Secreto

 


Thriller político nacional O Agente Secreto [Brasil, França, Holanda, Alemanha], de Kleber Mendonça Filho, dá uma aula de cinema, com excelentes atuações, um roteiro soberbo e uma montagem digna do Oscar. Cinema brasileiro da mais alta qualidade. Representante tupiniquim ao Oscar 2026.



Após os excelentes O Som ao Redor (2012), Aquarius (2016)  e Bacurau (2019), temos essa obra de arte, que faz uma homenagem ao cinema, com uma contundente crítica social em uma Recife dos anos 1970 marcada pela violência e pela conivência do regime militar.



Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia acusado de atividades subversivas, se muda de São Paulo para Recife em 1977 na tentativa de escapar dos agentes do governo. Ele chega na capital pernambucana em plena semana do Carnaval e percebe que atraiu para si todo o caos do qual ele sempre quis fugir. Para piorar a situação, ele começa a ser espionado pelos vizinhos. Inesperadamente, a cidade que ele acreditou que o acolheria ficou longe de ser o seu refúgio.



O filme cria uma atmosfera de perigo e desconfiança que além de ser uma constante, é um dos grandes trunfos do longa, que se distancia completamente da ideia que o título poderia sugerir. Denso, mas arrebatador, vamos aos poucos descascando um trama complexa e cheia de camadas, que combina elementos históricos, políticos e do imaginário popular da época.



A direção de arte, o figurino e a fotografia recriam com precisão e textura a capital pernambucana de 1977, com uma estética que reforça tanto o realismo quanto o clima tropical brasileiro. Cuidado técnico não faltou. Kléber fornece as peças do quebra-cabeça e permite o espectador montar sua história.



A montagem é brilhante, não parecendo em nenhum momento que o filme tem duas horas e quarenta minutos de duração. Os coadjuvantes também se destacam. Dona Sebastiana (Tânia Maria), atriz potiguar de 78 anos, que rouba a cena sempre que aparece e não será surpresa sua indicação a atriz coadjuvante. Seu Alexandre (Carlos Francisco) tem um carisma ímpar e até o delegado Euclides (Robério Diógenes), por mais caricato que seja, tem seu carisma.



É um retrato sobre o impacto da violência e da vigilância na intimidade de um homem e de uma cidade. É sobre o que resta da vida quando a própria realidade exige que se viva escondido. Em tempos em que a democracia correu um sério risco, e muitos clamam a volta da ditadura, o filme é um prato cheio.



Assim como em seu filme anterior, Retratos Fantasmas, a sétima arte é uma personagem á parte, que ajuda a contar a história de O Agente Secreto. Tendo o tradicional Cinema São Luiz, na capital pernambucana, como cenário emblemático, o longa ainda traz referências a clássicos como Tubarão.



Apesar da bela recriação do passado, e das cenas situadas no presente (em que duas estudantes analisam gravações da época em que grande parte do filme se passa), O Agente Secreto não adapta uma história real específica, embora seja totalmente crível a ideia da perna cabeluda.



Veja o trailer:


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