Pelo que soube, ele teve uma parada cardíaca, e não resistiu. Ele já tinha a fala trôpega e dificuldades de movimentos no lado esquerdo do corpo, em conseqüência de um AVC que sofrera tempos atrás, e agora não resistiu.
Ele estava próximo do mercado de peixes na Av. Beira-Mar (um local que ele adorava), quando por volta das 8:00h sofreu a primeira parada cardíaca. Foram três no total... Eu estava próximo, pois quase todas as manhãs vou correr na Av. Beira-Mar, só que hoje corri apenas até a estátua de Iracema... Foi melhor assim, pelo menos não terei a imagem do corpo do meu pai estendido no chão aguardando atendimento médico enquanto tinha o tórax massageado pelos pescadores que estavam na praia...
UPDATE: Soube através do meu irmão (por parte de pai) James, que ele lutou muito para sobreviver. Foi ressuscitado três vezes, mas cada parada cardíaca fora mais forte que a anterior.
Infelizmente não tinha muito contato com ele. Ele 'esteve' com minha mãe, de 1980 até 1990 (nos 'deixou' quando eu tinha 6 anos), quando afastou-se para viver com outra família. Aliás, meu pai sempre teve muitas mulheres... Em 1997, quando minha irmã completou 15 anos, ela pediu de presente para minha mãe, ver o nosso pai. Daí minha mãe o procurou para atender o pedido da filha...
Ele passou a fazer parte novamente de nossas vidas. Sempre nos visitava, e se mantinha por perto. Eu deixava de ser criança e entrava na adolescência. Posso dizer que tive uma infância sem pai. Porém alguns anos depois, como minha mãe não o 'queria', ele simplesmente decidiu se afastar... Disse que não pisaria mais lá em casa... Apesar de ter dois filhos lá...
Isso me deixou profundamente magoado... E fiquei indiferente ao meu pai. Nos últimos anos, falávamos apenas por telefone, durante alguns instantes... Geralmente era Natal, Ano Novo, ou o nosso aniversário... Nasci um dia depois da data de aniversário dele (4 de setembro, sou do dia 5... Isso mesmo, fui planejado pra nascer na data do meu pai, mas preferi nascer um dia depois...)
Sou muito parecido fisicamente com meu pai. Herdei também algumas características peculiares delei: a inteligência, a falta de timidez, a arte de falar em público... Isso dentre outras coisas creio que puxei do meu pai.
Porém nunca fui mulherengo como ele. Tive alguns namoricos na adolescência, mas nada que durasse mais de um mês... Até que encontrei a Mariana, minha esposa. Posso afirmar que diferente do meu pai, sou um homem de apenas uma mulher. E pretendo ser assim por toda minha vida.
Não quero aqui falar mal de meu pai. Ele deve ter tido seus motivos... Ele tinha excelentes qualidades. Sempre ajudava a quem dele necessitava. Tinha um grande coração. Talvez por isso tenha tido tantos filhos... No entanto, nem de pai eu o chamava... O Pereira, como me dirigia à ele, me decepcionou. Porém eu o perdôo por tudo... Em minha identidade, consta apenas o nome da minha mãe... Contudo, mas do que a falta de um registro paterno, senti sua ausência ao longo dos meus 26 anos de vida... A ponto de não sofrer tanto com a sua perda. Isso me deixa magoado... Gostaria de estar sofrendo pela perda do meu pai, mas não estou.
Uma coisa aprendi com o Pereira, não serei o pai que eu tive. Pretendo amar o meu filho como nunca fui amado por meu pai. Jamais abandonarei o meu filho como fui abandonado por meu pai. Jamais serei ausente na minha função de pai. E quem acessa o Renovo Baby sabe disso. Quando eu vier a falecer, meu filho lamentará a minha perda...
Apesar de tudo isso, ontem ele me ligou... Nem lembro a última vez que havia falado com ele... Ontem ele me parabenizou pela notícia de que terei um filho homem. Todos sabiam o quanto eu queria ter um filho homem, talvez até por essa relação pai e filho que não tive... Me pediu também o telefone do meu tio e se despediu. Agora enquanto escrevo estas palavras, meu coração começa a se quebrantar...
Definitivamente, não tenho pai. Apenas o pai celestial. Deus nunca me abandonou... Pereira, que Deus o tenha.