Drama Capitão Fantástico (Capitain Fantastic, EUA, 2016), de Matt Ross demorou uma eternidade para finalmente ser exibido em Fortaleza, graças ao Cinema de Arte do Cinépolis Rio Mar. O filme é exuberante! Apesar de criticar até mesmo o cristianismo, ele expõe bem suas justificativas e cativa com sua proposta libertária e não revoltada de ver a vida, emocionando o público com o amor de um pai pelos filhos e especialmente o amor que os filhos demonstram pelo pai. Filme obrigatório para estudantes de pedagogia, e para pais que se preocupam com a educação de seus filhos. Merece ser visto, discutido, debatido e apreciado por todos. É um delicioso road movie, que lembra um pouco a vibe de Pequena Miss Sunshine (2006). Sabe aqueles filmes que você não é mais o mesmo depois de assistir? Capitão Fantástico é um destes...
Em meio à floresta do Noroste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben Cash (Viggo Mortensen) dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários, vivendo longe da civilização, no meio da floresta, numa rígida rotina de aventuras e aprendizado sobre sobrevivência. As crianças caçam, lutam, escalam, fazem música, leem obras clássicas de grandes autores, debatem sobre o conhecimento que adquirem com os livros, falam seis idiomas e praticam uma rotina rígida de duros exercícios físicos, tendo a autossuficiência sempre como palavra de ordem. Curioso os nomes exclusivos que as crianças possuem, tendo sido inventados pelos pais.
Eles vivem numa cabana sob uma educação segundo as leis da natureza com o objetivo de transformá-los em adultos saudáveis. Esse isolamento da sociedade é contestado pelo sogro de Ben, avô paterno das crianças, Jack (Frank Langella), que não admite essa forma de educar os netos. E esse conflito se fortalece quando eles recebem a notícia do suicídio da esposa/mãe, o que leva a família a entrar num conflito e tomarem a difícil decisão de deixar o isolamento, sendo forçados a terem um reencontro com parentes distantes trazendo à tona velhos conflitos. A princípio o pai reluta em levar os filhos de volta a sociedade, mas por insistência destes, que querem uma despedida digna daquela que os colocou no mundo, eles se vêem forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai e traz à tona tudo o que ele os ensinou.
As cenas em que há o contraste da educação moderna que as crianças atualmente recebem, e a alternativa proposta pelo filme são estarrecedoras. Educamos nossos pequenos para o consumo desenfreado, lhes damos uma má alimentação, os tornamos obesos pela falta de exercícios... Sem falar que enquanto que as crianças educadas na selva tem fortes convicções e noções de liberdade e direitos civis, as crianças da cidade sentam à mesa com celular, não podem discutir um assunto sério como o suicídio com os pais, mas podem ver atrocidades no vídeo game. Fato é que as crianças da selva tem dificuldades de relacionamento, como fica exposto na cena em que Bo (George Mackay) dá seu primeiro beijo. Julgar quem está certo ou errado não é a questão, pois tudo na vida requer equilíbrio, mas o mérito do filme em abordar estes assuntos de forma didática, divertida e inteligente é sensacional.
A maior mensagem do filme, é a questão do amor que não deve faltar quando o assunto é educação familiar. O respeito também é fundamental, e o avô personifica a posição contrária a educação que as crianças recebem, que por terem consistência, fazendo com que Ben tome algumas decisões. Por mais que o filme critique até mesmo o cristianismo, até pelo fato da mãe ser budista, isso não ganha relevância na trama. Ao invés de celebrarem o nascimento de Jesus Cristo, a família comemora e trocam presentes (armas) no aniversário do filósofo americano Noam Chomsky (linguista com posições políticas de esquerda e crítico da política externa dos Estados Unidos). Que roteiro soberbo! O elenco infantil está muito bom em cena, assim como os coadjuvantes adultos. Viggo está um monstro no papel. Destaque também para o belo design de produção, a fotografia correta, a montagem dinâmica e, especialmente, a trilha sonora. Impossível não se emocionar com a cena em que a família canta Sweet Child of Mine, dos Guns N' Roses.
O filme ganhou 12 troféus, entre eles o de Melhor Diretor da Mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, do Festival Internacional de Palm Springs, Karlovi Vary e dos Prêmios do Público e do Júri do Festival de Deauville – além de mais 39 indicações, tendo concorrido ao Oscar de Melhor Ator, para Viggo Mortensen. Segundo trabalho de Matt Ross, 46. Ator de terceiro escalão de Hollywood, tendo atuado em 12 Macacos (1995) e Psicopata Americano (2000) além de ter atuado em diversas séries de TV (A 7 Palmos e CSI, entre outras), realizou dois curtas e estreou com o filme 28 Hotel Rooms (2012), que permanece inédito no circuito comercial brasileiro. É bom ficarmos de olho nesse diretor. Talento ele cara tem.
Segue trailer de Capitão Fantástico:
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