Thriller de ficção científica dramática, vendido como filme de terror, Extermínio: A Evolução [28 years later, Reino Unido, Estados Unidos, 2025], de Danny Boyle com roteiro de Alex Garland, prova que The Last Of Us precisa "evoluir" muito pra chegar ao nível dessa franquia. Continuação de Extermínio (28 days later, 2003) e Extermínio 2 (28 weeks later, 2007).
Há quase três décadas o vírus da raiva escapou de um laboratório de armas biológicas, e agora, ainda impõe uma quarentena implacável. Algumas pessoas encontraram maneiras de existir em meio aos infectados. Um desses grupos de sobreviventes vive em uma pequena ilha conectada ao continente por uma única passagem fortemente defendida. Ao partirem numa missão, seus integrantes descobrem segredos, maravilhas e horrores que transformaram não apenas os infectados, mas também outros sobreviventes.
O tempo cura algumas feridas, mas outras evoluem com o passar do tempo, quando não são devidamente tratadas. É o que vemos nesse filme dramático, com alta dose de ficção científica e toda adrenalina e suspense de filmes de ação, com efeitos gráficos deslumbrantes, tudo filmado com iphones.
Logo no início, temos uma cena de cinema-colagem construído por recortes de documentários de guerra e filmes de época de meados do século passado, aliado a uma edição picotada nos momentos de ação que enche os olhos. A trilha sonora composta pelo grupo Young Fathers também ajuda a contar a história que não é mais um filme de zumbis correndo e mordendo o povo.
Na trama, acompanhamos a travessia emocional de Spike (Alfie Williams), um jovem moldado não pela experiência social de existência no mundo, mas pela ausência dela. Ou seja, muita coisa ele simplesmente desconhece. Pressionado pelas expectativas rígidas de um pai (Aaron Taylor-Johnson) que enxerga a masculinidade como desempenho e controle, logo é lançado aos absurdos daquele mundo, como quem tenta provar algo que nem ele compreende totalmente. A construção de tensão proposta pelo filme é perfeita e constante, de forma que o filme consegue te deixar ligado em todos os atos.
Será se já não vivemos num mundo onde a socialização foi substituída pela sobrevivência? Um mundo onde drones atacam países inimigos, mas não conseguem ajudar no resgate de uma jovem numa montanha vulcânica? Vivemos literalmente num mundo onde o vírus da ignorância intelectual se espalha com grande facilidade e ganha novos adeptos, cada vez mais "involuídos".
De início, nos identificamos com o pai que quer ensinar ao filho a sobreviver nesse mundo. Ao completar 12 anos, ele leva o garoto para o continente, para que ele mate seus primeiros infectados e enfrente seus medos. No entanto, a figura de herói do pai-herói, logo é desmanchada pelas mentiras que ele conta na festa de retorno, e especialmente pela forma como ele trata a mãe (Jodie Comer), com traições e a mantendo presa em seu quarto com a mente se deteriorando. Aliás, a doença da mãe, funciona como ponto de inflexão emocional, obrigando Spike a confrontar não apenas a brutalidade do mundo exterior, mas também as feridas internas que o definem. Acompanhar e torcer pela "aventura" de um menino que deseja encontrar a solução para a doença de sua mãe, nos cria uma empatia e até um certo carinho pelo longa.
O filme consegue ainda em meio ao caos da violência, trazer poesia, como nas cenas filmadas em meio a lindos jardins floridos, ou em meio a caveiras do que um dia foi vida. As cenas de explosão, destruição e morte ganham um apelo estético muito refinado, o que me faz pensar que há beleza até onde teoricamente não deveria haver. Vemos uma cena épica com o Dr. Kelson (Ralph Fiennes) que confronta o "Memento mori" expressão em latim que significa "lembre-se que você vai morrer" com "Memento Amori", que significa "Lembre-se do amor". Aqui o filme se torna arrebatador.
O texto bíblico sagrado das escrituras traz em Cânticos 8:6b - 7a a seguinte passagem: "...porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo...". Há muita verdade nisso. O amor, é maior que a morte. Por isso devemos amar uns aos outros, como tanto nos ensinou o Jesus Cristo de Nazaré.
Ah mas o filme tem zumbis gordos que rastejam... Ah mas os zumbis andam pelados no filme... Ah mas seria impossível um zumbi procriar e parir... Me poupem. o motivo do “Evolução” no título tem uma única explicação que é fazer menção aos chamados “zumbis alfas” que aparecem na trama. No entanto, precisamos evoluir em humanidade. Tudo que aparece no filme, é pra lhe fazer pensar. Assim como os anteriores, não é sobre zumbis, mas sobre a humanidade e como ela não pode ser perdida em meio ao fim do mundo. Quem não gosta de pensar, talvez não goste do filme, pois ele não entrega tudo mastigado, como a maioria dos filmes ao estilo Netflix fazem. O final nos deixa com um desejo enorme por uma continuação. Por mais louco que isso possa parecer.
Segue trailer:
Melhor que Adoro Cinema, Omelete e Cinema com Rapadura. Crítica bem feita tá é aqui!
ResponderExcluirEdilson Holanda.