No último domingo, torci meu tornozelo. Comecei a tratar com gelo, mas ele ficou à cada dia mais inchado, então fui ao médico e descobri que a lesão é mais grave do que pensei.
Resumindo: ligamentos rompidos, luxação anterior da fíbula e derrame articular. Fui receitado com Nisulid D e continuo tratando com gelo. Farei sessões de fisioterapia e espero me recuperar o mais rápido possível, pois tenho treinos e corridas agendados...
O que é a entorse do tornozelo ?
A
entorse do tornozelo é a lesão ligamentar mais comum em esportistas.
Também pode ocorrer durante a atividade de andar, correr ou saltar.
Representa 25 % de todas as queixas ortopédicas, ocorrendo uma lesão por
dia para cada 10.000 pessoas, isto é, 18.000 entorses por dia ou 750
entorses por hora no Brasil.
O
movimento forçado do tornozelo e do pé para dentro, em direção à linha
média do corpo, ultrapassando o limite de resistência dos ligamentos,
resulta em danos a estas estruturas. Cerca de 90% das lesões ocorrem
desta maneira, pela inversão forçada do tornozelo.
A
lesão mais comum é a ruptura parcial ou total dos ligamentos e da
cápsula articular lateral do tornozelo, o chamado complexo ligamentar
lateral.
A estrutura mais frágil e mais freqüentemente lesada é o ligamento talofibular anterior (LTFA).
Quais os ligamentos e estruturas estão envolvidos na entorse do tornozelo ?
O
tornozelo é uma estrutura que deve ser estável e ao mesmo tempo
flexível para permitir que os movimentos do pé sejam precisos e tenham
força suficiente para impulsionar o corpo e absorver os impactos contra o
solo.
A
sua configuração óssea lembra uma pinça, onde o tálus encaixa-se entre a
fíbula e a tíbia e é envolto por uma cápsula espessa e dois complexos
ligamentares, um lateral e outro medial.
Existem
três ligamentos que formam o complexo ligamentar lateral do tornozelo. O
ligamento talofibular anterior, o calcâneofibular e o talofibular
posterior. Os mais importantes e envolvidos na entorse são os ligamentos
talofibular anterior (LTFA) e ligamento calcâneofibular (LCF).
Raramente ocorre ruptura do ligamento talofibular posterior (LTFP).
O complexo ligamentar medial é formado pelo ligamento deltóide, que possui duas camadas, uma superficial e uma profunda.
Outras
estruturas estão presentes e fazem parte da estabilização do tornozelo,
mas são mais raramente acometidas. São elas: os ligamentos tibiofibular
anterior e posterior, o retináculo inferior, o ligamento cervical e o
ligamento talocalcaneano.
O que pode ser lesado em uma entorse do tornozelo ?
O
mesmo mecanismo de torção e as forças envolvidas em uma entorse podem
produzir uma fratura do tornozelo ou lesões da cartilagem de
revestimento da articulação.
O hematoma (sangramento) e edema (inchaço) são comuns depois de qualquer entorse.
Quando
ocorre sangramento dentro da articulação (derrame articular), isto pode
levar à inflamação crônica dos tecidos moles do tornozelo e é conhecida
como sinovite.
Além
disso, a lesão da parede interna da cápsula articular pode formar uma
cicatriz que permanece no interior da articulação do tornozelo e pode
interpor-se entre os ossos, causando dor e sensação de instabilidade.
Mais
raramente, uma lesão dos tendões fibulares pode ocasionar o
deslocamento de sua posição normal atrás da fíbula, uma condição
conhecida como subluxação dos tendões fibulares.
Lesões
nervosas não são comuns, mas pode-se observar certo formigamento e
perda da sensibilidade na porção lateral do pé (parestesia) por
estiramento do nervo fibular superficial. Essa perda da sensibilidade é
rara e normalmente é transitória.
Quais sintomas após uma entorse de tornozelo ?
Os
sintomas iniciais são: dor, inchaço e hematoma, que podem afetar os
dois lados da articulação, dependendo das estruturas acometidas.
A
dor intensa ao toque e a impossibilidade de firmar o pé no chão ou de
apoiar o peso depois de uma entorse, requer uma avaliação médica
imediata e exames de raio X.
Cerca
de 80 % das lesões evoluem com resultados satisfatórios após tratamento
conservador, porém, 20 % dos pacientes referem dor residual e lesões
associadas que impossibilitam suas atividades normais diárias.
Esses
sintomas residuais e a dor crônica após a lesão ligamentar do tornozelo
representam grandes dificuldades e um desafio para qualquer
ortopedista.
Como é feito o diagnóstico de uma entorse de tornozelo ?
O
diagnóstico baseia-se no relato da história do paciente, no exame
físico, nos sinais e sintomas encontrados e pelo estudo radiológico do
pé e tornozelo.
No
exame físico, a palpação é importante para localizarmos pontos
dolorosos e avaliar a extensão das lesões. Existem testes que podem
auxiliar na classificação, indicar a presença de instabilidade
ligamentar e de lesões associadas.
Também
é importante excluir possíveis fraturas com o exame de raio X,
principalmente se há dor intensa e impossibilidade de apoiar o pé no
solo.
Como são classificadas as entorses do tornozelo ?
Grau 1 (Lesão leve) – Estiramento e ruptura de algumas fibras internas dos ligamentos
Dor e inchaço discreto. Tornozelo estável mecanicamente
Grau 2 (Lesão Moderada) – Ruptura parcial dos ligamentos
Dor, hematoma e inchaço. Tornozelo com certa instabilidade anterior
Grau 3 (Lesão Grave) – Ruptura completa dos ligamentos
Dor intensa, hematoma e grande inchaço. Tornozelo instável e com incapacidade funcional
Como é o tratamento para a entorse do tornozelo ?
A metodologia de tratamento das entorses ainda é um assunto bastante discutido e não totalmente estabelecido.
Uma
abordagem prática é o tratamento das lesões ligamentares laterais
baseado na classificação utilizando-se a reabilitação funcional:
Entorses Grau 1:
Pode-se
utilizar tala gessada, bota imobilizadora ou imobilizador tipo
“air-cast” por 1 ou 2 semanas. Lesões leves podem ser tratadas
funcionalmente com imobilização elástica. Indica-se repouso, uso de
gelo, antiinflamatórios e elevação do membro para aliviar os sintomas. A
fisioterapia acelera areabilitação a partir da 2ª ou 3ª semana após a
lesão.
Entorses Grau 2:
Tratamento
semelhante ao grau 1 com prolongamento do tempo de imobilização por até
3 semanas. O período de cicatrização, de recuperação e de reabilitação é
mais prolongado. A fisioterapia tem papel importante para o completo
resultado funcional.
Entorses Grau 3:
O
tempo de imobilização pode chegar até 4 semanas. O período de
cicatrização, de recuperação e reabilitação é longo. Existe maior
possibilidade de ocorrer lesões associadas e complicações com sintomas
residuais tardios.
O
tratamento cirúrgico é reservado para casos selecionados em atletas e
lesões com grande instabilidade e abertura da pinça articular.
Como é a reabilitação funcional após entorse de tornozelo ?
A reabilitação funcional é um programa supervisionado com três fases básicas de tratamento.
1ª Fase –
Repouso, elevação do tornozelo, gelo, antiinflamatório e imobilização,
se possível tipo “air-cast” ou bota imobilizadora. Esta fase dura até a
melhora da dor e do inchaço, geralmente 1 ou 2 semanas.
2ª Fase – Fisioterapia
motora supervisionada para melhorar o movimento do tornozelo, aumentar a
força e a estabilidade dos músculos. Nesta fase inicia-se o apoio e o
treino de marcha. Métodos analgésicos podem ser usados
concomitantemente.
3ª Fase –
Intensifica-se o treino de força e de propriocepção. Se o paciente
sentir-se seguro e confiante é realizada a reintrodução das atividades
laborais e desportivas.
O que é esperado após a entorse de tornozelo ?
Em
seis semanas após entorse de tornozelo deve-se esperar 90% de bons
resultados e o retorno a um bom nível de função. No entanto, é possível
que existam alguns sintomas residuais de dor ou instabilidade da
articulação do tornozelo.
Mesmo
após seis meses há ainda uma chance de 20 a 30 % dos pacientes sofrerem
com algum grau de desconforto ou leve instabilidade da articulação.
Como é a avaliação dos sintomas tardios ?
A
avaliação dos sintomas residuais (dor, inchaço e instabilidade) após
três meses de entorse do tornozelo, com tratamento e reabilitação
adequados, é feita através da avaliação da queixa do paciente, do exame
físico e da realização do exame de ressonância nuclear magnética.
Este
exame auxilia no diagnóstico de defeitos da cartilagem articular
(lesões osteocondrais), aderências e cicatrizes internas dolorosas e
inflamadas como sendo a fonte dos sintomas tardios.
A sinovite, a lesão meniscóide e as lesões de cartilagem são as causas mais comuns de dor crônica após entorses de tornozelo.
A
instabilidade crônica ocasiona entorses de repetição do tornozelo, em
intervalos variados e de diferentes graus, ocorrendo mesmo em terrenos
planos e não necessariamente associada à prática de esporte.
Como é feito o tratamento das lesões tardias ?
A instabilidade após o entorse (entorses de repetição) é uma queixa muito comum após o tratamento da lesão ligamentar.
Normalmente
está associada à falta de reabilitação, como reforço muscular e melhora
da propriocepção. A propriocepção é a capacidade de resposta muscular
automática que auxilia no equilíbrio e na estabilidade da articulação.
Ela ajuda a evitar ou conter o estiramento e a ruptura ligamentar do
tornozelo durante o mecanismo de entorse. Por isso, deve ser trabalhada e
estimulada após qualquer lesão ligamentar, pois há uma perda importante
desse mecanismo de proteção.
A
correção dos déficits de força, flexibilidade e propriocepção são
suficientes, na maioria das vezes, para estabilizar e evitar as entorses
de repetição.
O
tratamento cirúrgico da instabilidade é indicado quando não houve
melhora com a reabilitação motora. Pacientes jovens, atletas ou com
grande atividade física diária podem se beneficiar com o reparo e o
retencionamento dos ligamentos laterais.
A
técnica mais comumente empregada é chamada de Bröstrom Modificada, onde
os ligamentos lesionados são retencionados e reinseridos ao osso,
juntamente com um reforço do retináculo (banda ligamentar que segura os
tendões).
A
sinovite crônica, a lesão meniscóide e as lesões de cartilagem – lesões
condrais – sintomáticas podem ser tratadas atualmente através da
realização da artroscopia do tornozelo, uma técnica minimamente invasiva
que permite avaliar a articulação internamente e tratar as lesões
utilizando câmera de vídeo e instrumentos específicos (ver “Artroscopia
do Tornozelo”).
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