sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Pacarrete


Comédia dramática cearense Pacarrete [Brasil, 2019] de Allan Deberton, encanta com uma personagem real, que era tida como louca em Russas, município localizado a 165 km da capital cearense, onde cresceu o diretor que passou a infância acreditando na fama de louca que perseguia Maria Araújo Lima, mais conhecida como Pacarrete, uma senhora espalhafatosa, que fez da vida uma eterna tentativa de mostrar o valor da arte da dança na cidade.

Russas, interior do Ceará. Pacarrete (Marcélia Cartaxo) é uma professora de dança aposentada, que vive com a irmã Chiquinha (Zezita Matos) e tem Maria (Soia Lira) como empregada doméstica. Rigorosa e ranzinza, ela vive limpando a calçada e brigando com quem passa por ela. Seu grande sonho é estrelar um balé para a população local durante a grande festa de aniversário de 200 anos da cidade, que está prestes a acontecer. Para tanto, ela manda confeccionar uma nova roupa de bailarina ao mesmo tempo em que tenta convencer a prefeitura de seu show. Entretanto, a falta de interesse da população em geral por espetáculos do tipo logo se torna um grande oponente.

A personagem por mais que pareça raivosa, tem uma graça incontida e por mais que seja explosiva, acaba divertindo pelo fato de ser exagerada. Me lembrou inclusive uma conhecida de Russas, que tem um pouco do DNA de Pacarrete em seu sangue. Os coadjuvantes estão muito bem em cena. O bodegueiro Miguel (João Miguel), que é extremamente simpático, principalmente com Pacarrete. O alívio cômico além da protagonista, é a relação com Maria (Soia Lira) a empregada doméstica prestes a se tornar vó, que vive (quase) sempre intrigada com Pacarrete. A parte emocionante do filme se dá  com a irmã Chiquinha (Zezita Matos). Tem uma cena entre ela e Pacarrete que é sensacional o diálogo. Sem falar da cena que ouvimos a canção We Don't Need Another Hero, de Tina Turner.

O figurino do filme também merece elogios, assim como a trilha sonora. Por mais que a personagem seja exagerada, o filme não o é. Tem uma metragem correta, e uma edição ágil que corrobora com a história que está sendo contada.

A cena final de Pacarrete dançando no palco do teatro vazio é algo deslumbrante, e acaba dialogando com o momento político que vivemos, onde a cultura e a arte são tão maltratadas pelo poder público, à ponto inclusive do filme ser exibido no encerramento do Cine Ceará, com centenas de cadeiras vazias e várias pessoas interessadas em ver o filme. Esse foi um dos protestos da equipe que apresentou o longa.

A produção foi premiada em oito categorias no 47º Festival de Cinema de Gramado. Além de melhor filme pelo júri oficial e popular, melhor atriz, melhor ator e atriz coadjuvantes, melhor direção, roteiro e desenho de som.

Se encante com o trailer de Pacarrete:

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