sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Nico, 1988



Drama biográfico musical Nico, 1988 (2017) de Susanna Nicchiarelli retrata os dois últimos anos de vida da cantora e compositora alemã Nico, considerada uma das musas de Andy Warhol e que cantou com o grupo The Velvet Underground. Ao lado de seu filho Ari  (Sandor Funtek), passou um bom tempo de seus momentos finais tentando provar a paternidade de Alain Delon, que negava.

Na trama, acompanhamos Christa Päffgen (Trine Dyrholm), mais conhecida pelo seu nome artístico Nico, fez muito sucesso no final da década de 60 ao lado da banda Velvet Underground. Ela ganhou esse nome artístico quando ainda era modelo, na adolescência, antes de suas colaborações com Andy Warhol em Nova York. A alcunha teria sido concedida por um fotógrafo por ela namorar o diretor Nikos Papatakis. 

Vinte anos depois, a cantora tenta desenvolver a sua carreira solo ao mesmo tempo em que precisa lidar com os fantasmas do passado: o vício em drogas, a relação problemática com o filho e a depressão que a acompanhou durante toda a vida. Ela não quer ser definida por seu passado, por sua beleza e muito menos pelos homens com quem dormiu.


O filme traz o fracasso à tona, mas de forma circunstancial, não como um fator determinante. O foco do roteiro são nos dois últimos anos de vida de Nico, que inicia uma turnê pela Europa após um empresário/fã (iJohn Gordon Sinclair) assistir a um de seus concertos e estimular a cantora a passar por países como Itália, França, Tchecoslováquia e Polônia. Entre 1986 e 1988, no crepúsculo de sua vida e carreira, a cantora cujo nome artístico é um anagrama de icon olhava para a fama na década de 1960 com desdém. Para ela, estar no topo e experimentar o ostracismo comercial eram situações igualmente "vazias".


Essa forma do roteiro de Nicchiarelli, reforça a noção de descrença com a vaidade do estrelato e consegue ser bem assertiva. A narrativa constrói uma Nico muito ciente de si mesma, uma mulher disposta a cortar as excessivas ligações que fazem entre a sua figura e os feitos de outros homens.

Com vícios semelhantes, mãe e filho compartilham de um laço longe dos clichês. Ela o retira de uma clínica de reabilitação para que Ari seja sua companhia durante a turnê na Europa. Claramente não é o que o rapaz precisa naquele momento e o filme sabe explorar as contradições da dinâmica entre os dois dali em diante, quando muito é expresso por gestos, não por palavras.


A versão sepulcral de "Janitor of Lunacy" tocada no bar de Manchester é de assombrar. A interpretação de "All Tomorrow's Parties", em um registro mais raivoso do que na gravação original do The Velvet Underground, faz todo o sentido com a proposta do filme. Quando as circunstâncias do enredo fazem Nico cantar com uma banda de jazz, a performance do standard "Nature Boy" faz a gente pensar numa colaboração hipotética entre Nico e Chet Baker.


A grande catarse musical do filme, entretanto, se dá quando Nico e sua banda ultrapassam a Cortina de Ferro para tocar para um grupo pequeno, mas fiel, de fãs na Tchecoslováquia comunista. O sentimento anti-esquerdista da cantora aflora e ela se indispõe com o público, mas basta começar a cantar para que Dyrholm se entregue à música na canção-desabafo "My Heart is Empty". Raras vezes o "som da derrota", tão buscado por Nico, soou tão glorioso.

Segue trailer de  Nico, 1988:
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