quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
Parasita
Drama, suspense, comédia trágica e terror sul coreano Parasita [Coreia do Sul, 2019], de Bong Joon-ho nos apresenta o clássico conflito de classes de forma visceral e intransigente, mostrando o que há de pior de humanidade, ou na falta dela na vida das pessoas.
De início, somos apresentados a uma família de baixa renda, que vive num sub solo na periferia, em condições deploráveis. A privada do banheiro, fica acima do nível de convivência familiar. Bêbados urinam pela janela, deixando um odor e mal cheiro. Todos os quatro membros da família Ki-taek estão desempregados, lutando para conseguir um sinal de wi-fi aberto e sobrevivendo às custas de dobragens de caixas de papelão para uma rede de pizzaria. Porém uma obra do acaso faz com que o filho adolescente comece a dar aulas privadas de inglês à rica família Park. Fascinados com o estilo de vida luxuoso, os quatro bolam um plano para se infiltrar nos afazeres da casa burguesa. É o começo de uma série de acontecimentos incontroláveis dos quais ninguém sairá ileso. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custam caro a todos.
É deplorável ver a que ponto o ser humano é capaz de chegar em seu egoísmo exacerbado. O livre arbítrio concedido por Deus, nos coloca diante de possibilidades diversas, e os caminhos e escolhas nem sempre são as melhores, e todas elas trazem consequências boas ou ruins. A assimetria que existe entre as duas famílias, a pobre e a rica é tão bem construída, seja na estrutura (pai, mãe e filhos), seja na disposição cênica, de locações e de cenários, especialmente na questão do acima e do abaixo, que fica evidenciado o conflito das classes, em tomadas bem criativas.
Diante da criatividade da família Kim, o espectador tende a simpatizar com a aflição vivenciada e necessidade de ascensão social tão intensamente buscada. No entanto, o filme deixa claro que o bem sempre deverá vencer o mal. Se você usa uma pedra para semear maldades, ela pode quebrar sua vidraça. Mas você pode usá-la para erguer um castelo. Na segunda parte, quando uma série de revelações, conflitos e incidentes violentos começam a se suceder, ficamos atônitos e atordoados diante da barbárie que presenciamos. Você é rico ou é pobre. E, quando se trata disso, os ricos secretamente pensam o pior de você. Você está lá para servi-los. Suas necessidades vêm primeiro.
O ritmo de filme é alucinante, e como o filme tem amplas camadas, fica tudo ainda mais complexos. Todo mundo no filme é ser humano, e passível a errar, seja ele pobre ou rico. Se os pobres fossem os ricos do filme, e os ricos fossem os pobres, o roteiro do filme seria semelhante. Dizem que a luz brilha para todos, ou que todos tem as mesmas 24h do dia, mas isso não é uma verdade. Enquanto uns tem luz em abundância (casa toda aberta, com parede de vidro), outros vêem a luz apenas de uma fresta e outros vivem pior ainda, na escuridão absoluta do subsolo. O roteira permeia com sensibilidade os diversos níveis da pirâmide social.
O longa é ousadamente original, ao combinar a sátira social com toques de horror, thriller e tragédia. É também uma narrativa que se transforma continuamente, podendo ser considerada uma comédia inovadora, ou uma poesia romântica com beleza melancólica. São vários filmes vistos ao mesmo instante. O bom do filme é o fato dele ser verdadeiro, embora perverso. Crível, por mais absurdo que tudo que acontece diante de nossos olhos pareça.
Veja trailer do premiado e badalado Parasita:
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