quarta-feira, 12 de julho de 2017

Soundtrack

Drama Soundtrack (Soundtrack, Brasil, 2014), de 300ml, autores do curta Tarantino’s Mind (2006) é mais que um filme diferente, é uma experiência cinematográfica que propõe uma aproximação entre arte, ciência e religião. Trata-se de um filme brasileiro cuja história se passa no Polo Norte, expondo o retrato da solidão em que vivem alguns profissionais isolados, tais quais astronautas que orbitam no espaço. 

O fotógrafo Cris (Selton Mello) viaja para uma estação de pesquisa polar decidido a 
se isolar e tirar selfies que capturem as sensações causadas por uma série de músicas pré-selecionadas e então realizar uma exposição de arte. No local, ele conhece o botânico brasileiro Cao (Seu Jorge), o especialista britânico em aquecimento global Mark (Ralph Ineson), o biólogo chinês Huang (Thomas Chaanhing) e o pesquisador dinamarquês Rafnar (Lukas Loughran). Os cinco precisam conviver juntos e descobrem diferentes perspectivas sobre a vida e a arte.


O filme recheado de melancolia expõe a realidade  ao colocar no mesmo espaço, um britânico, um chines, um dinamarques e dois brasileiros, que se vêem forçados à convivência durante a execução de suas atividades. A ambientação do filme é interessante, mérito da dupla brasileira 300ml que se sai bem na tarefa de mexer com o público. O lugar acaba então sendo um personagem em si, pois muito do que é retratado, só ocorre em função das longas distâncias, do isolamento, do frio, e dos tons de cinza da amplidão do gelo em relação aos contêineres onde dormem os personagens.

O filme tem cenas memoráveis, como o debate sobre o sentido do sucesso, do reconhecimento e do crédito. O cientista faz parte de um projeto cujos resultados só serão conhecidos em 90 anos, o que deixa Cris intrigado, pois ele se vê movido por um senso de urgência sem vaidade, que fica conceituado no próprio conceito de seu projeto, que possui ambições financeiras de 4.000% de lucro, afinal “o mercado de arte é o mais lucrativo do mundo”.

Temos também a cena em que vemos o texto de Gênesis lido pelo astronauta da Apollo 8 em órbita, em plena noite de Natal de 1968, que é arrebatadora. Num momento de alívio cômico, vemos os isolados disputando um campeonato de pega peixe (o brinquedo clássico) numa cena cativante. 

Assim como a ideia do projeto do Cris é proporcionar ao público uma futura exposição que proporcione o contato direto com sua experiência interior, o longa tenta proporcionar ao espectador uma experiência de imersão na paisagem gélida e devastada em que vivem os quatro cientistas.

Selton Mello demonstra todo seu talento ao interpretar um Cris que chega num ambiente diferente, passa a interagir com os demais e modifica cada um dos quais se relaciona com a sua forma de ver o mundo e com as músicas que seleciona para o grupo ouvir, algumas delas, não são apresentadas ao público, dando uma sensação de ausência enorme durante a projeção. Assim, a trilha sonora não é tão orgânica quanto deveria. Apesar disso, o filme é mais de Mark, devido a forte atuação de Ralph Ineson que apesar de sua aparente brutalidade, explicada pela frustração de passar as festas natalinas longe de sua família, ele aborda questões ligadas à espiritualidade e ao sentido da vida na visão de um cientista, que são dignas de aplausos.

A dúvida se o projeto de Cris era algo simplório ou genial, fica exposta com notícias mundiais sobre a exposição da obra do artista desaparecido no pólo norte, reforçando a ideia de que a arte hoje só é valorizada se conquistar a mídia e aumentar assim seu valor de mercado, onde a qualidade geralmente é desprezada pelo público, que prefere ver obras que não os façam pensar.

Veja trailer de Soundtrack:

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