Documentário sobre o Golpe de 2016, O Processo (Brasil, Alemanha, 2017) de Maria Augusta Ramos premiado em festivais internacionais, oferece um olhar sincero pelos bastidores do julgamento que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016, testemunhando a profunda crise política e o colapso das instituições democráticas no país que realizaram uma farsa para destituir a presidente democraticamente eleita.
O documentário acompanha a crise política que afeta o Brasil desde 2013 sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. A diretora Maria Augusta Ramos passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram com o golpe parlamentar que destituiu a presidenta Dilma do cargo máximo de nosso país, como retaliação pelas medidas contrárias a grandes nomes do poder.
Enquanto vimos no cinema e em séries de TV, obras como Polícia Federal - A Lei é Para Todos e O Mecanismo, produzidas por investidores beneficiados pelo Golpe, aqui temos uma obra de cinema legítima, que foi contemplada com o World Cinema Fund, do festival de Berlim, sendo assim uma obra imparcial, que expõe o que houve na realidade, onde só um cego não consegue enxergar a realidade.
O filme acompanha a história real, desde a aceitação da denúncia contra Dilma por crime de responsabilidade pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em 2 de dezembro de 2015, até sua condenação e consequente cassação pelo Senado, em 31 de agosto de 2016. As filmagens alternam registros de eventos públicos que foram transmitidos pela TV e gravações no formato “mosca na parede” da escola do Cinema Direto, capturando momentos de seus protagonistas à quente, seja em ação ou em breves pausas. O foco da câmera estão principalmente nos senadores petistas Gleisi Hoffman e Lindbergh Farias e no ex-ministro da Justiça e advogado de defesa José Eduardo Cardozo, mas quem rouba a cena do cinismo é a coadjuvante Janaína Paschoal, advogada que foi uma das autoras da denúncia, que surge sempre em registros caricatos, sejam em intervalos privados, ou em momentos espontâneos que reiteram literalmente a farsa que foi esse Impeachment.
O filme expõe as consequências da Operação Lava Jato, a queda de Eduardo Cunha, e principalmente o “grande pacto nacional, com o Supremo, com tudo”, deixando claro o papel de Aécio Neves, a pressão de Michel Temer na compra de votos dos congressistas, que em nome da família, da esposa, do cachorro, do papagaio, de torturadores e do time de futebol votaram pela abertura do processo. Todos esses episódios são mostrados em tela, em ordem cronológica e com letreiros informativos.
As melhores cenas do registro documental, são realizadas no teatral julgamento, que mostra inclusive as articulações e desabafos nos gabinetes de Gleisi, Lindbergh e Cardozo. A cena que mostra a gravação da entrevista de Dilma a correspondentes estrangeiros é um belo registro, deixando claro como o mundo viu as peripécias dos golpistas e ficou estupefato diante de uma presidente condenada sem provas. O clímax, está no desabafo sincero e autocrítico feito pelo ex-ministro Gilberto Carvalho, diante dos senadores petistas, expondo os grandes erros do governo PT, que foi deixar de ouvir as lideranças sociais, para atender aos anseios das raposas políticas que usurparam o poder e destituíram Dilma.
O documentário é um tanto quanto longo, mas necessário para o registro histórico. Apesar de muita falação, envolvendo termos técnicos, o filme não fica restrito a histeria coletiva das ruas ou na condenação prévia da mídia hegemônica, que foi uma das grandes responsáveis pelo golpe, formando a chamada opinião pública. O filme se centra então nos corredores do Senado, escutando ambos os lados das discurssões, vendo as equipes discutirem embargos infringentes, metas orçamentárias, emendas parlamentares, ajustes fiscais, porcentagens, datas, interpretações de leis, até a afirmação da denunciante de que Dilma cairia pela vontade das ruas, e não pelas leis que deturparam para destituir o cargo de presidente, ficando claro que do ponto de vista jurídico, não houve crime de responsabilidade e, portanto, não houve motivo para o impeachment, evocando a obra de Franz Kafka, no qual o personagem principal também é condenado sem crimes, num julgamento orquestrado e sem possibilidade de defesa justa.
Escolhido pelo público como o melhor documentário na mostra Panorama, no 68º Festival de Berlim. Vencedor do prêmio de melhor longa-metragem internacional no Festival Documenta Madri 2018, Vencedor do grande prêmio na categoria de longas-metragens no Festival Internacional de Documentários da Suíça. Escolhido como melhor longa-metragem pelo público e pelo Júri Silvestre, no festival de cinema português IndieLisboa. A obra fez parte também da seleção oficial do festival É Tudo Verdade (2018). Importante registro histórico sobre o Golpe de 2016.
Veja trailer de O Processo:
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