Drama nacional O Filme da Minha Vida (Brasil, 2016) de Selton Mello baseado no livro Um Pai de Cinema, de Antonio Skármeta (mesmo autor do clássico O Carteiro e o Poeta, e que também faz uma ponta no filme numa cena num bordel) tem virtudes ao narrar uma bela história, demonstrando que assim como num filme, não devemos simplesmente dar importância ao início ou o fim, mas também ao meio, pois o mais importante da vida é a jornada.
Após concluir os estudos e se tornar professor de francês, o jovem Tony (Johnny Massaro) decide retornar a Remanso, na Serra Gaúcha, sua cidade natal, de onde guarda boas recordações de sua infância. Filho de um imigrante francês Nicolas Terranova (Vincent Cassel) e da brasileira Sofia (Clais), ele descobre ao retornar que seu pai voltou para França alegando sentir falta dos amigos e do país de origem. Tony se vê então em meio aos conflitos e inexperiências juvenis sem o apoio da figura paterna. O que dizer da sub trama do aluno de Tony que está doido para perder a virgindade?
O filme trata então da dificuldade natural que é amadurecer, especialmente com a ausência de algo ou alguém, no caso o pai. Apesar do excessivo uso de cigarros, talvez pela época em que o filme se passa (está em cartaz no cinema local, o filme Rio Vermelho de 1948), a produção é admirável, com uma bela fotografia dourada (sépia?) de Walter Carvalho. É perceptível os ajustes que foram realizados no desenho de som, que às vezes fica mais alto, e às vezes fica caricato de tão notório. Ressalta-se que as canções da trilha sonora são nostálgicas, especialmente pra quem viveu o período.
Outro grande mérito do filme, é o fato dele exalar vida, apesar das dificuldades que certamente encontramos ao longo da caminhada. Viver não é algo doloroso, pelo contrário é extremamente prazeroso. Quanto a questão da ausência, o fato dela se fazer presente o tempo todo, torna a figura paterna presente, seja no amigo de seu pai, Paco (Selton Mello), no relacionamento do jovem com Luna (Bruna Linzmeyer) ou em como Tony leva a vida, guiado sobre os ensinamentos deixados pelo pai. O filme reserva um segredo, que pode ser descoberto com as pistas que são entregues ao longo da projeção.
O elenco apresenta uma ótima revelação com o protagonista Johnny Massaro. O pai do rapaz é vivido pelo sempre bom Vincent Cassel. Já o roteiro de Selton Mello e Marcelo Vindicato é sentimental, esbanjando coração em relação a adaptação da obra literária. O problema é que vemos três Seltons no filme, o apaixonado pelo cinema roteirista, o espetacular ator e o diretor ainda em desenvolvimento. Sua forma de ver o cinema é algo que o faz ser admirado pelos cinéfilos. Algumas cenas são líricas, outras emocionam numa apresentação de balé, ou num olhar brilhante admirando a sétima arte que é reverenciada neste filme. A cena de Jhonny saindo do cinema, onde para os "porcos" estaria desperdiçando duas horas de sua vida é de encher os olhos, embora o colírio do filme seja a beleza estonteante de Petra (Bia Arantes) em todas as suas aparições com um olhar fulminante.
Não é o melhor filme nacional de todos os tempos, mas uma grata surpresa... Encerro minha análise com uma frase sutil dita no filme: "cinema é um troço escuro que você fica lá dentro vendo a vida dos outros em vez de cuidar da sua e perde duas horas da vida". Perco muitas horas da minha vida, literalmente vivendo dentro de uma sala escura...
Assista ao trailer de O Filme da Minha Vida:
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