quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A Economia do Desenvolvimento Humano na Infância e da Adolescência


Neste 27 de setembro de 2017, participei como ouvinte da palestra A Economia do Desenvolvimento Humano na Infância e da Adolescência com o professor Flavio Cunha em mais uma edição do Fórum Ceará em Debate, no auditório localizado no 3º andar do Edifício da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) do Governo do Estado, no Centro Administrativo Governador Virgílio Távora, no Cambeba. A realização do Fórum é do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) e Seplag, com apoio da Escola de Gestão Público (EGP).

O currículo do palestrante Flávio Cunha informa que ele é graduado em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em junho de 2000, obteve o grau de Mestre em economia pela escola de economia da Fundação Getúlio Vargas Epge/FGV. Já em 2007 concluiu os estudos de Phd em economia pela Universidade de Chicago nos EUA. Atualmente, Flávio Cunha é professor da William Marsh Rice University e pesquisador associado do Centro de Estudos Populacionais da Universidade da Pensilvânia nos EUA. Em 2014 foi o primeiro brasileiro laureado com a Medalha Frisch, distinção concedida a cada dois anos pela Sociedade Americana de Econometria. Além disso, é autor de vários trabalhos em parceria com o economista James Heckman, Prêmio Nobel de economia do ano 2000.

Em sua palestra, Flavio ressaltou sobre a questão da necessidade de investimento na primeira infância. Em seus slides, ficou evidenciado que a desigualdade na renda do trabalho é causada pela desigualdade no capital humano, que surge na primeira infância (antes mesmo da criança entrar para escola) e continua na adolescência. Ou seja, quando a escola recebe a criança, já existe uma diferença cognitiva que irá perdurar.

Flávio deixou claro que a pobreza não é algo genético, logo vale o investimento. Se faz necessário dedicação de tempo dos pais para os filhos, especialmente na questão afetiva. É muito importante os pais conversarem com os filhos, sendo inclusive essa interação útil no processo de correção da linguagem da criança. E o mais interessante, não é preciso ter renda, ou dispêndio de recursos para conversar com o filho.

Foi falado que o capital humano é multidimensional (virtudes), a necessidade de desenvolver habilidades não-cognitivas, e que na adolescência o comportamento é de alto risco. Flávio abordou inclusive a questão do desenvolvimento do cérebro na adolescência: 

1ª FASE: Sistema Límbico (puberdade até os 14 anos), comparou como sendo o acelerador, onde o adolescente se preocupa com "o que tem a ganhar" 
2ª FASE: Cortex Pré-Frontal (dos 14 aos 19 anos), onde o adolescente começa a observar as consequências de longo prazo. Comparou como sendo o freio.
3ª FASE: Maturação (dos 20 aos 22 anos). Em resumo, quando o jovem "aprende a dirigir".

Em sua homilia, Flavio foi enfático ao afirmar que o adolescente tem necessidade de aprovação dos pais. Citou o exemplo do ITA em Fortaleza e na Coréia do Sul, onde há um status do adolescente ser aprovado no ITA. Mas levantou o questionamento de comunidades que recompensam quem entra para o tráfico. Nesse sentido, pincelou acerca da questão da redução da maior idade penal e da necessidade de políticas públicas na adolescência, independente do ambiente onde o jovem esteja inserido.

Foi alertado também acerca da restrição de acesso ao comportamento de risco (bebidas alcoólicas, armas de fogo), além da redução do número de horas do adolescente sozinho (escolas em tempo integral, mas sem duplicar a carga de transmissão de conhecimento, mas desenvolvendo habilidades não cognitivas). É preciso desenvolver altruísmo no adolescente, documentando tanto o sucesso, quanto o fracasso, tirando dele o devido aprendizado.

Posteriormente foi aberto para perguntas. Flavio falou acerca do suicídio, dizendo que o bullying saiu do ambiente escolar, para o Facebook. Relatou que na infância, deve se trabalhar na parcela de risco, mas na adolescência, deve se inverter a lógica e abordar todos os demais adolescentes e não a parcela de risco. Outra pergunta sobre ensino profissionalizante, Flavio falou que o importante não é resultado (a profissionalização), mas o processo de formação profissional.

Foi perguntado também acerca da aplicação não cognitiva, uma vez que o adolescente tem que se precocupar com passar no vestibular. Flavio citou que essa aplicação deve acontecer antes das crianças chegarem no ensino médio, pois o maior problema, estão com aqueles que nem chegam no ensino médio, e o capital humano é perdido ainda no ensino fundamental.

Ao ser indagado sobre a questão da criminalidade como sendo uma epidemia, falou que os amigos que temos, valoriza o que somos. O adolescente valoriza demais o que os outros pensam a seu respeito. Sobre questões de orientação sexual na adolescência, Flávio enfatizou que não é o bombardeio de informação que transforma, mas uma mudança na cultura. Sobre questões ligadas a violência doméstica, Flavio citou estudos que falam de pre disposição genética que estão relacionados com o ambiente onde as crianças vivem. Por fim, falando sobre avaliação de sistemas meritocráticos, Flávio disse que não há evidencias de métodos de avaliação eficientes, que sejam capazes de inserir dimensões do capital humano.

Antes do término, foi falado do interesse no conteúdo da palestra como pai, onde a função social dos pais são fundamentais, especialmente quando este descobre o quanto é bom brincar com os filhos. Encerrou dizendo que precisamos aprender com os erros, apesar dos adolescentes continuarem morrendo enquanto estamos aprendendo a lidar com eles.

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