Na noite deste 16 de novembro de 2014, fui com o amigo
Paulinho Degaspari, que estava à trabalho em Fortaleza no fim de semana, ver
Interestelar, mas como a sessão estava lotada, optamos por Boyhood: da Infância a Juventude e acompanhamos com prazer, durante 245 minutos a história de vida de Mason (Ellar Coltrane, que tinha tinha 7 anos quando o filme começou a ser filmado e 18 quando terminou, e merece indicação e o prêmio de ator no Oscar 2015). Ele é filho de pais divorciados (interpretados por Ethan Hawke e
Patricia Arquette) que tentam criar seus dois filhos estando separados.
A
narrativa percorre a vida do menino durante 12 anos, da
infância à juventude, e analisa sua relação com os pais conforme ele vai
amadurecendo.
Efésios 6:4 alerta aos pais, a não irritarem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor. Educar filhos nunca foi tarefa fácil. As escrituras são claras ao dizer que os pais devem instruir a criança segundo os objetivos
que tem para ela, e mesmo com o passar dos anos, não se desviará deles.(
Provérbios 22:6) Apesar da complexidade, é fabuloso lidar com o universo infantil, e o cineasta Richard Linklarter teve muita perspicácia ao escalar um menino de 6 anos para um filme que duraria 13 anos sendo filmado.
A ideia do filme é sensacional, e ele acaba funcionado em tela, devido a veracidade das situações familiares apresentadas. As filmagens começaram em 2002, e o elenco se encontrou uma vez
ao ano, durante 12 anos, para gravar o filme. Ele foi rodado durante apenas 45 dias, de maio de 2002 a agosto de 2013, o que, a grosso modo, abrange mais de 4.000 dias. Parece um paradoxo. E imagino as dificuldades enfrentadas pela produção, pois nos EUA é ilegal assinar contratos com duração superior a 7
anos, assim, é louvável o compromisso de todos os envolvidos.
Tudo isto já faz com que o filme valha o valor de seu ingresso e o respeito dos cinéfilos, pois estamos diante de algo inédito no cinema.
O metodologia utilizada por Linklater era essencialmente o de fazer
diversos filmes curtos de 10 a 15 minutos ao longo de 12 anos, cada um
representando um ano na vida do rapaz, e depois editá-los juntos como um
longa-metragem.
Assim, podemos ver que a transformação da criança num jovem, acontece tanto na narrativa, quanto no aspecto físico dos personagens. Algo extremamente fabuloso. O salmista certo dia indagou: Como pode o jovem manter pura a sua conduta?
Vivendo de acordo com a tua palavra. (
Salmos 119:9) O livro de Eclesiastes diz: "Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude! Siga por onde seu coração mandar,
até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas
Deus o trará a julgamento." (
Eclesiastes 11:9)
O filme tem uma aura familiar e isso fica claro ao vermos que o diretor escalou sua filha Lorelei Linklater para viver Samantha, irmã de Mason. Ele declarou que ela estava sempre cantando e dançando ao redor da casa
e queria estar em um de seus filmes. E como é chata sua personagem na infância, talvez ela quisesse chamar atenção do pai, que certamente passava bons tempos distante da família enquanto rodava seus filmes... Durante as filmagens, certamente na fase da "aborrescência", ela quis abandonar o projeto, mas posteriormente recuperou o entusiasmo e continuou nas filmagens...
O filme apesar de tudo que já foi escrito aqui, é extremamente simples, mostrando coisas comuns, no
cotidiano do garoto. Ele vai a escola, se relaciona com seus amigos da vizinhança, tem seus atritos com a irmã, nada de extraordinário, e a grandeza do filme reside exatamente aí. As
passagens de tempo e os cortes de cena estão todos bem inseridos na
montagem do longa. O roteiro merece os méritos pela originalidade. A trilha sonora merece um comentário à parte, um post exclusivo, pois está esplendorosa, engloba canções como "Yellow" do Coldplay, "Band on the Run", de Paul McCartney, e participações de grandes nomes como Blink 182, Sheryl Crow, Daft Punk, Pharrell Williams, Foo Fighters, Wilco, Lady Gaga, entre outros. Estou providenciando a inclusão da trilha do filme em meus dispositivos musicais...
Famílias desestruturadas tendem a formar crianças problemáticas. A separação dos pais é um trauma muito grande para ser vivido por seres tão inexperientes, quanto uma criança. Infelizmente a banalização da família, e o incentivo ao divórcio, tem feito com que uma geração de jovens carreguem consigo uma amargura, o que infelizmente tem levado muitos a caminhos tortuosos e algumas vezes irreparáveis. "Eu odeio o divórcio", diz o Senhor em
Malaquias 2:16.
Felizmente Mason sobreviveu aos infortúnios vivenciados e até que se saiu bem. E vemos o esforço dos pais em dar conselhos e orientação, especialmente o pai, que teoricamente está mais ausente, é dele que ouvimos os principais conselhos, como na cena em que ele fala abertamente com a filha sobre o uso de métodos anti conceptivos. No entanto, vemos que a mãe de Mason, cometeu o mesmo erro mais de uma vez, algo bem natural para um ser humano comum. Paulo escrevendo aos
Coríntios no capítulo 7 relata que a esposa não deve se separar do seu marido, mas se o fizer, deve permanecer
sem se casar ou, então, reconciliar-se com o seu marido. Da mesma forma, o marido não deve
se divorciar da sua mulher... Percebi no filme que o pai (Ethan Hawke) até pretendia se reconciliar com a mãe (Patricia Arquette), especialmente em função da vontade dos filhos. Vemos o amadurecimento do pai ao longo do filme, especialmente na formação de sua nova família. O amadurecimento tardio de seu pai também é possível de identificar na vida de tantos homens que demoram a crescer... No entanto, a mãe decide priorizar os estudos em detrimento da família e acaba se casando com um de seus professores, numa decisão infeliz que traz fortes consequências.
Sou filho de mãe solteira, então me identifiquei com as crianças, na necessidade de ter um pai como referencial. Hoje sou pai, e sei o quanto um filho pequeno anseia por momentos de carinho, atenção e cuidado dos pais. Felizmente, minha mãe nunca colocou outro homem dentro de nossa casa, em respeito a mim e a minha irmã. Ela teve que pagar o preço pelas decisões tomadas na juventude, e a respeito muito por isso.
O alcoolismo desempenha papel importante no decorrer da história,
afetando figuras próximas de Mason de maneira devastadora, primeiro de
maneira discreta, quando ele é obrigado pelo companheiro de sua mãe a comprar bebida, depois de modo direto, quando eclode uma briga, ele vê a mãe sendo violentada e o seu marido saindo do controle em função do vício. Quanto a isso, sigo as orientações de Paulo aos
Efésios, no capítulo 5:18, que diz: "Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito" Outra passagem bíblica que me chama atenção é
Provérbios 23:29-30 "De quem são os ais?
De quem as tristezas?
E as brigas, de quem são?
E os ferimentos desnecessários? De quem são os olhos vermelhos? Dos que se demoram bebendo vinho,
dos que andam à procura de bebida misturada."
Outra cena que me chamou a atenção, foi quando Mason, num de seu aniversário, ganha uma Bíblia de sua avó. Que presente valioso! Pena que muitos jovens desprezem tanto a palavra de Deus, especialmente durante sua mocidade. Sou grato a Deus e a minha mãe por todas às vezes que ela me levou à igreja contra a minha vontade. Outro presente foi um paletó... Eu já completei 30 anos e ainda detesto ter que usar terno e gravata. Sou feliz na igreja que frequento, onde posso ir aos cultos de bermuda e camiseta. Fico à imaginar os jovens que são obrigados por seus pais a irem todo arrumado à igreja... Além desses presentes, Mason ganha também um rifle! E o avó conquista o garoto, ao praticar com ele tiro esportivo... Uma bíblia, um terno ou rifle, qual presente mais lhe agradaria?
Além de todo viés dramático, o filme também chama atenção ao apresentar várias referências à cultura pop. É perceptível a evolução dos dispositivos da Apple, passando por várias gerações de equipamentos eletrônicos... Vemos o tema das eleições em destaque, com o pai envolvendo os filhos na campanha de Obama para presidente, vemos jogos de videogames de cada época e inclusive uma cena do lançamento de Enigma do Príncipe, um dos livros do Harry Potter... Que já fora citado anteriormente, numa cena onde a mãe lê a história do bruxinho mais querido do cinema para os filhos... Temos também uma premonição, numa cena ao redor da fogueira, quando vemos o pai e filho falando sobre a
possibilidade de um novo filme de "Guerra nas Estrelas", posteriormente as gravações da cena foram anunciados os planos reais para um Star Wars: Epiródio VII (2015) com a aquisição da Lucasfilm pela
Disney em 2012. Ou seja, o roteiro em 2008,
previu os planos de 2012... O longa tem então um clima de nostalgia sobre o início do século XXI e os últimos anos que é algo encantador.
Amigos de longa data, Richard Linklater e Ethan Hawke
cresceram com pais divorciados do Texas que trabalhavam no ramo de
seguros, exatamente a mesma carreira que o personagem de
Hawke, tem no filme. Havia um acordo, de que caso Linklater viesse a falecer, Wawke assumiria a direção por estar envolvido e acompanhando tudo desde o início. Felizmente nenhuma fatalidade atrapalhou este projeto. Linklater inclusive ganhou o prêmio de Melhor direção no Festival de Berlim 2014.
Fiquei fascinado com a experiência de ver esta obra-prima chamada Boyhood no cinema. O filme poderia ter o dobro do tamanho que não seria cansativo. O filme nos faz olhar para nossa própria vida e refletir sobre nossa história. Somos no hoje, aquilo que vivemos ao longo de nossa existência. Não recomendo este filme para o público em geral, mas se você é daqueles que gosta de aproveitar o caminho em vez do destino final, talvez você goste bastante desse filme. Nota: 10,0/10,0.
Segue trailer: